A Frelimo, num passado bem recente, preferiu 40. Era preciso fazer a guerra da propaganda. Não a guerra ideológica como havia nos anos 80. Um regimento de Goebbels de todas as feições foi formado. Alguns mais seguidistas que outros. Mas na lista, nem todos assumiram a função com zelo. Outros viram os seus nomes lá dentro sem consulta. O facto é que a estratégia era atacar por todos os lados. Utilizar tanta tropa, no entanto, nem sempre é eficiente, já dizia Sun Tzu.
A Renamo preferiu criar um personagem que se posta sob a efígie sacralizada, no grupo, de Matsangaiça: Unay Cambuma. Ele dá voz a uma rede de informação e desinformação. É na verdade um personagem colectivo com nome fictício. Os 40 também usavam e abusavam de todos os ardis imagináveis. A manipulação, a descaracterização, o insulto e a descontextualização propositada de abordagens distintas da linha oficial.
A Renamo fez, agora, uma meia inflexão. Para dar mais face a sua propaganda, escolheu o nome de uma pessoa de carne osso: Zeca Caliate. A partir de um blog intitulado a Voz da Verdade, ele ataca todos os que criticam as opções belicistas da Renamo. Foi esse Zeca Caliate que assinou as recentes farpas contra o escritor Mia Couto. Zeca, como disse, existe em carne e osso mas quem lhe conhece cre que ele não tem capacidade para gerar aquele tipo de texto. Suspeita-se por isso que anda por aí um grupo de intelectuais da Renamo que, tal como faz com Unay Cambuma, se esconde sob a capa de Caliate.
Mas quem é Zeca Caliate? Este homem desertou da Frelimo em plena luta de libertação, em 1973, e se entregou aos colonialistas. Quando os moçambicanos lutavam pela autodeterminação, Caliate decidiu lutar contra a independência, e hoje faz a propaganda pela Renamo. Em troca da deserção, Zeca Caliate recebeu uma casa, oferta do regime colonial em 1974, em Vila Nova de Santa Iria, perto de Lisboa, onde vive até hoje e de onde produz esse blog carregado de ódios antigos e raivas mal resolvidas, assinando tambem textos doutros simpatizantes das intenções da Renamo.
Leia aqui: O combate em que morreu André Mantsangaissa
Leia aqui: Os pecados de Mia Couto
Entretanto, do lado da situação, parece que os G40 foram descartados embora um e outro continue pensando que o Presidente Nyusi aprova as suas intervenções. Mas pior: surgiu nas redes uma figura mais papista que o Papa. Chama-se J.J.Cumbane. Seus textos estão cheios de ódio e recalque. A vitima mais recente foi o Professor Luís de Brito, do IESE, meu docente de antropologia politica nos gloriosos tempos em que a combatida UFICS formava uma verdadeira massa critica.
O Prof. Brito usou uma imagem de retórica para enfatizar uma opinião, e está a ser crucificado. O Prof. Brito combatia o argumento oficial segundo o qual a descentralização não pode ser aprofundada por causa das limitações fiscais ao nível dos distritos. Para ele, esse argumento era falacioso no contexto de um país cujo orçamento depende, em grande medida, dos doadores. Nessa situação, o pais era inviável… O Professor foi ao extremo para mostrar o absurdo do volteface relativamente ao aprofundamento da descentralização. E, chamado a clarificar, ele clarificou por A+B o que queria dizer. Quem esteve no evento ficou satisfeito. Mas o J.J. Cumbane aproveitou a referência a Portugal para lançar a sua intifada que, na verdade, vale o que vale, tal como a verborreia do Caliate contra o Mia vale o que vale.
Zeca Caliate e Mr Cumbane são, hoje, duas personagens dignas de um case study em divã apropriado.
Por Marcelo Mosse, da sua página no Facebook