O director do departamento de mercados emergentes do banco suíço Vontobel AG, o maior detentor de obrigações da Empesa Moçambicana de Atum (Ematum), considerou hoje que as agências de notação financeira devem rever em alta o `rating` de Moçambique.
“As agências de notação financeira devem rever em alta o `rating` de Moçambique no futuro não muito distante, porque acreditamos que realmente não há uma troca problemática”, disse Luc D`Hooge em declarações à Bloomberg, no dia a seguir à apresentação dos termos da proposta de recompra de dívida por parte da Ematum.
Nos últimos dias, a Standard & Poor`s e a Moody`s desceram o `rating` de Moçambique por causa da proposta de recompra de obrigações da Ematum, segundo a qual é aumentada a taxa de juro anual de 6,3% para 10,5% e é alargada a maturidade de 2020 para 2023, por considerarem que isso é o equivalente a um incumprimento.
A S&P desceu o `rating` de Moçambique para CC, dez níveis abaixo da recomendação de investimento, na terça-feira, e hoje o diretor do departamento de `rating` soberano da S&P disse à Bloomberg que está à espera de ver a reação dos investidores face à proposta feita pelo executivo moçambicano.
A Moodys` baixou a avaliação para B3, quatro níveis acima da avaliação da S&P, enquanto a Fitch, logo no dia 11, colocou o país em avaliação negativa, podendo emitir uma declaração hoje depois do fecho dos mercados.
Alguns dos maiores detentores de obrigações da Ematum consideram que a proposta apresentada pela empresa para reestruturar a dívida é vantajosa, apostando que as receitas do gás natural garantirão os pagamentos.
“Essa é a base do nosso investimento inicial”, disse o gestor financeiro Marco Santamaria, que gere 25 mil milhões de dólares em dívida dos mercados emergentes na AllianceBernstein LP, a maior detentora de dívida da Ematum.
Em declarações à agência financeira Bloomberg, disse acreditar que Moçambique “tem um potencial muito alto e há imensas razões para acreditar que vai estar preparado em 2023”, acrescentando que “os termos que foram oferecidos são razoavelmente atrativos” e mostrando-se convicto de que “a oferta vai ser aprovada”.
A importância da Ematum para Moçambique extravasa a pertinência desta empresa pública, cuja dívida vale 41 por cento da dívida externa do país: para os analistas e observadores internacionais, é um exemplo das dificuldades que afetam os mercados emergentes africanos, nomeadamente na capacidade de gerirem bem os empréstimos internacionais, mas também das oportunidades que os recursos naturais oferecem a estes países, que por causa disso são observados com interesse pelos investidores.
O escândalo da Ematum envolve uma empresa atuneira detida por várias entidades públicas, incluindo a secreta moçambicana, que se endividou à custa da intervenção do Governo como avalista e à revelia das contas do Estado e dos financiadores externos.
Inicialmente tido como um negócio privado, através de empréstimos de centenas de milhões de dólares para a aquisição de uma frota pesqueira em França, foi recentemente assumido que a Ematum serviu também para a compra de equipamento militar e, por pressão dos países doadores, o negócio acabou por ser inscrito num orçamento retificativo no ano passado.
As contas da Ematum, nomeadamente a emissão de dívida de 850 milhões de dólares com garantia estatal, têm sido recorrentemente apresentadas pelas instituições financeiras internacionais como um exemplo negativo do estado das contas do país, nomeadamente em termos de transparência.
Moçambique é um dos países mais pobres do mundo e está com dificuldades de pagamento da sua dívida devido à descida do preço das matérias-primas e ao abrandamento da China, que originou uma significativa desvalorização do metical no ano passado, o que, por seu turno, encarece ainda mais os pagamentos dos empréstimos contraídos em dólares.
Fonte: Lusa