Renamo_guerrilha_mata O director do Instituto de Estudos Socais e Económicos de Moçambique alertou hoje que a instabilidade no país pode aumentar os níveis de abstenção eleitoral, considerando que os moçambicanos começam a duvidar do seu próprio sistema político.

“O conflito, no geral, pode desincentivar as pessoas no que diz respeito à participação nas eleições”, disse à imprensa Luís de Brito, à margem de um seminário de apresentação e debate de um estudo sobre a participação e abstenção eleitoral em Moçambique, realizado pelo Instituto de Estudos Socais e Económicos (IESE).

Para o pesquisador do IESE, além da descrença no sistema político, a abstenção nos pleitos eleitorais moçambicanos revela uma crise de cidadania, uma situação que tem como consequência a própria legitimação do poder vigente.

“Se a abstenção é estrutural, como é o caso, o sistema político fica fragilizado”, observou Luís de Brito, referindo que a incapacidade do Estado para responder às necessidades básicas do povo é outro fator que contribui para a descrença nas instituições políticas.

Ao apontar o alto índice de analfabetismo como um dos fatores de abstenção em alguns pontos do país, o pesquisador do IESE assinalou que, no entanto, é necessário observar a história local para perceber as reais causas do problema.

“Nós teremos sempre de integrar elementos do contexto local para perceber o real comportamento eleitoral dos cidadãos”, referiu o diretor do Instituto de Estudos Socais e Económicos, sugerindo uma análise fragmentada para cada ponto do país.

Além das mulheres, a camada mais jovem, entre 18 e 24 anos, é apontada pelo estudo do IESE como a que mais regista altos níveis de abstenção leitoral, facto que, de acordo com o pesquisador, aponta para a necessidade de se intensificar os níveis de sensibilização nas escolas.

“A sensibilização nestas camadas pode ser um passo, mas não podemos pensar nela como solução de forma isolada, ela deve ser acompanhada por outros elementos, o fortalecimento das instituições do Estado, por exemplo”, concluiu o pesquisador.

Os níveis de abstenção eleitoral em Moçambique mantêm-se acima do previsto desde as eleições de 2004, quando atingiu 64%.

Dados oficiais indicam nas eleições gerais de 2014 o país registou uma abstenção de 51,51% e 51,36% nas legislativas e nas presidenciais, respetivamente.

Os processos eleitorais em Moçambique tem sido alvo de várias críticas, com os partidos de oposição e os observadores internacionais a denunciarem irregularidades, em processos maioritariamente vencidos pelo partido no poder há 40 anos, a Frelimo.

A atual crise político-militar tem origem na recusa da Renamo, maior partido de oposição, em aceitar os resultados das últimas eleições gerais, acusando a Frelimo de ter manipulado o escrutínio e ameaçando governar as seis províncias onde reclama vitória.

Fonte: Lusa